A menina meiga tinha um blog. A menina meiga era uma fofura. Todos a achavam uma fofura. Criativa, sentimental, apaixonada... Em seu blog ela escrevia mil coisas, e dentre essas coisas, se destacava o descontentamento com a "imoralidade" do mundo de hoje. Com as músicas que não prestam. Com essas meninas que só querem ficar com um e com outro, com a luxúria exagerada, com gente que não se respeita. Todos amavam ler isso, todos ficavam orgulhosos: "nossa, como ela é inteligente!", diziam eles. A menina meiga se sentia uma peça fora do quebra-cabeça, um ser humano em extinção. Assim ela atraiu dois rapazes, tão diferentes entre si, mas que no fundo pensavam a mesma coisa sobre essas "libertinagens".
Aí a menina meiga cresceu mais um pouco. Fez outros blogs, viveu outras experiências, conheceu outros pontos de vista. Percebeu que suas críticas eram infundadas, que ela não era tão inteligente e revolucionária agindo daquele jeito. Percebeu que estava na mesma situação das meninas que ela criticava, que havia algo maior oprimindo-as. Percebeu que tudo é cultura, que estava sendo prepotente e chovendo no molhado... "Muito fácil agradar as pessoas quando você tem os mesmos preconceitos que estão gravados na mente delas. Muito fácil ser tida como revolucionária quando você só repete de forma mais bonitinha aquilo que todo mundo pensa."
Eis que dali por diante ela se tornou realmente revolucionária, passou a questionar tudo o que a sociedade engessou como certo. Passou a defender o que superficialmente chamavam de imoralidade. Passou a lembrar as pessoas de que existe gente que não cabe nas caixas da sociedade. Passou a cutucar as feridas de todos, porque viu que era necessário fazê-lo.
E foi aí que ela se viu sendo realmente uma peça fora do quebra-cabeça.
E foi aí que ela deixou de ser a menina meiga.
A menina meiga, agora não mais meiga, passou por um processo de reflexão. Processo esse que nunca acaba.
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