Enfim, o fato é que um dia eu acordei, olhei a vida e me espantei. Me olhei no espelho e senti falta da energia que tinha se perdido, das cores que sempre me acompanharam. A sensação de impotência e a falta de perspectivas me roubaram todas as nuances, me deixando em tons de cinza levemente tingidos de sol. Do sol que eu pegava todos os dias na ida e na volta, no caminho que eu seguia para cumprir uma das minhas obrigações não muito interessantes.
Olhei meu reflexo no espelho e deu-se uma espécie de revolução silenciosa. Vontade de estar em contato com tudo que eu deixei pra trás na rotina chata. De rever e re-ter tudo aquilo que tem significado pra mim: o riso, a música que me toca, o ídolo que me inspira, a loucura. A decisão de brilhar, brilhar, acontecer, brilhar, onde quer que eu esteja, ainda que a tarefa a ser cumprida seja uma das piores. Dar o melhor de mim. Criar, dizer tudo que eu tenho a dizer, ser eu mesma. Pôr em prática as coisas que todo mundo julga como "perda de tempo", mas que parecem importantes pra mim.
Mas a parte mais louca dessa revolução se deu no dia que eu vi a minha imagem refletida e pensei "sua linda". Passei a me amar. Sentada no ônibus, vendo a mim mesma no espelhinho côncavo, com o cabelo preso para trás - penteado que eu nunca gostei de usar -, me achei bonita. Agora me sinto poderosa, pronta para encarar o mundo inteiro e sem me preocupar tanto com pequenas questões de auto-estima. Também parei de me preocupar com minha eventual solidão. Há tanta vida lá fora, há tantas mil possibilidades, por que eu vou pensar numa parte tão pequena do jogo da vida que é essa de estar acompanhada por alguém?
Se isso é só uma fase, eu não sei. Tenho só uma certeza: não se trata de um sorriso amarelo, e sim de uma grande gargalhada. Daquelas de deixar a barriga doendo e os olhos lacrimejando de felicidade.
"Alguma alegria é fundamental. E preciso fé, esperança, passar um brilho no olho e ir engatinhando para, em termos de sensação, redescobrir a vida, descobrir o sabor da festa".
(Elis Regina)
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