terça-feira, 30 de julho de 2013
Daquilo que me dá nojo
Não, não me refiro à figura de linguagem contida em textos literários, à ironia com propósito, à ironia que tem algum fundamento crítico e está ali para compor um conjunto.
A gente vive numa sociedade cínica e hipócrita. Todo mundo sabe disso. E nessa sociedade, uma das práticas mais comuns entre as pessoas é a aplicação deliberada da ironia. Ironia ácida, com um quê de lâmina cortante. Seu objetivo é exclusivamente ferir, humilhar, fornecer subterfúgios. É esse o grande problema: essas formas de ironia fazem com que as pessoas se escondam usando máscaras. Servem pra dizer "sou melhor que você, não estou nem aí pro que você fala, estou te pisando com o meu salto 15". Os adeptos dessa forma de ironia dizem que aqueles que não gostam simplesmente não a compreendem. "São burros". Mais demonstração de arrogância. "Isso é inveja".
Tenho cortado do meu círculo social quase todo mundo que usa desse recurso. Aqueles que não conseguem ser verdadeiros. Que estão com os pés dos dois lados da calçada, que só conseguem reagir por trás da máscara.
E não é por "ser burra e não entender". É por achar nojento, imbecil e ridículo mesmo.
quinta-feira, 25 de julho de 2013
Uma breve história de mim mesma
Aí a menina meiga cresceu mais um pouco. Fez outros blogs, viveu outras experiências, conheceu outros pontos de vista. Percebeu que suas críticas eram infundadas, que ela não era tão inteligente e revolucionária agindo daquele jeito. Percebeu que estava na mesma situação das meninas que ela criticava, que havia algo maior oprimindo-as. Percebeu que tudo é cultura, que estava sendo prepotente e chovendo no molhado... "Muito fácil agradar as pessoas quando você tem os mesmos preconceitos que estão gravados na mente delas. Muito fácil ser tida como revolucionária quando você só repete de forma mais bonitinha aquilo que todo mundo pensa."
Eis que dali por diante ela se tornou realmente revolucionária, passou a questionar tudo o que a sociedade engessou como certo. Passou a defender o que superficialmente chamavam de imoralidade. Passou a lembrar as pessoas de que existe gente que não cabe nas caixas da sociedade. Passou a cutucar as feridas de todos, porque viu que era necessário fazê-lo.
E foi aí que ela se viu sendo realmente uma peça fora do quebra-cabeça.
E foi aí que ela deixou de ser a menina meiga.
quarta-feira, 24 de julho de 2013
Reticências
terça-feira, 23 de julho de 2013
Estante de bits e bytes
O que não entra
- Livros religiosos: sou agnóstica, né. Não faria o menor sentido.
- Livros de auto-ajuda: acho um tanto desnecessários e babacas. Aliás, ser escritor de auto-ajuda parece um trabalho bem fácil.
- Livros de ficção cujos enredos me parecem babacas de forma gritante: tudo aquilo que cai num clichê, tudo aquilo que é raso e já parece raso ao primeiro olhar.(*)
- Livros derivados de sagas famosas: o principal exemplo disso são os 239353754674 livros eróticos que surgiram pós-Cinquenta Tons de Cinza.
- Best-sellers água-com-açúcar: "A Culpa É Das Estrelas" e afins.
- Livros escritos por autores notoriamente reacionários: Jabor, Narloch, literatura reaça em geral.
- Livros de fantasia: não vejo a menor graça.
- Livros que reforçam preconceitos: auto-explicativo.
O que entra
- Livros feministas: claro, e nem poderia ser de outra forma. ♥
- Literatura brasileira: clássica e moderna, mas de preferência moderna. E se for ambientada historicamente, melhor ainda. De preferência na ditadura militar. Histórias de jovens independentes me atraem também.
- Livros clássicos da literatura mundial do século XX: Orwell, Bradbury, Huxley e afins.
- Livros com mulheres como protagonistas: Acho válido. E fugindo do clichê "mulher protagonista que só liga pra sapatos, homens, maquiagem e compras", por favor.
- Ficções do cotidiano: aquilo que pode acontecer com qualquer um...
- Livros teóricos de Ciências Sociais: de algumas coisas eu tinha que gostar nessa joça.
- Livros teóricos de Jornalismo: pra me acostumar com minha futura área.
- Livros que abordam a temática da modernidade: mídias sociais, incerteza, ambivalência, conexão... Menção honrosa para Zygmunt Bauman, autor que me parece interessante e que eu pretendo ler com afinco.
- Best-sellers de outrora com temática interessante: se encaixam em "ficções do cotidiano".
- Livros com temática LGBT: ainda são poucos, mas espero encontrar mais.
- Livros que discutem sexualidade: é sempre bom.
(*) - Admito que até tenho alguns que parecem babacas, mas são poucos. São só pra distrair a mente mesmo.
domingo, 21 de julho de 2013
Química das preferências gerais
Me atrai a profundidade, a arte de demonstrar o que se sente, de rir tudo que há pra rir e chorar tudo que há pra chorar. Se dar o direito de chorar, se dar tempo pra pensar. Me atrai aquilo que é sincero, a noção de que tem certas coisas que acontecem hoje como aconteceram há anos atrás; mas que ao mesmo tempo muitas coisas mudam. Me atrai a ausência de hipocrisia e de preconceitos...
sábado, 20 de julho de 2013
Joga essa porcaria fora
Não, o mala tecnológico que descreverei não é aquele que fica na mesa do bar, na reunião com os amigos, usando seu smartphone como se não houvesse amanhã. Falo daquele que acha que só os aparelhos mais caros prestam. Aquele que tem uma visão elitista do mercado de gadgets e, sem sequer se dispor a testar os dispositivos de baixo custo, já cospe em cima deles e pisa em quem pensa em comprar um.
Como sabemos, o fato de o Android ser um sistema aberto possibilitou o surgimento de uma infinidade de aparelhos equipados com o sistema, com as mais diversas especificações técnicas, atendendo a todas as gamas possíveis. Dentro desse contexto, surgem os tablets de baixo custo; inicialmente xing-lings mal-acabados, posteriormente produzidos por indústrias nacionais e com configurações aceitáveis.
Eis a situação. Uma pessoa comum, que raramente é hard user, que procura um dispositivo apenas para tarefas básicas e não pretende gastar muito com isso, procura informações sobre o aparelho em questão. Resolve fazer perguntas a pessoas mais "entendidas". Eis que a wild mala tecnológico appears com sua frase pronta: "mano, nada barato presta, compra o Galaxy Tab/iPad" (a escolha do aparelho depende do lado com o qual ele se alinhou). Já chega minando as esperanças da pessoa. Outra situação: a pessoa comprou um aparelho de baixo custo, e depois de um tempo ele quebrou. Algo normal, pois nem mesmo os aparelhos mais caros são campeões de resistência: uma queda errada na hora errada e no lugar errado, e já era. Então, a pessoa vai perguntar o que fazer com esse aparelho. O mala ressurge falando "joga essa porcaria fora e compra um Galaxy Tab/iPad".
Considero isso uma atitude bastante burra da parte desses fanboys. Nem todo mundo quer performance monstruosa, rodar jogos HD ou algo do tipo. Há pessoas que só querem um dispositivo pra tarefas básicas - ler, ver filmes, usar a internet - e que não engasgue na execução dessas tarefas. Creio que a maioria dos tablets de baixo custo à venda no mercado cumpra bem esse papel, porque já passamos da era dos Phaser Kinno com Android 2.2 que travavam só com Angry Birds. Não sei se a atitude do mala tecnológico é preguiça de ver além do nicho dos dispositivos high-end ou mera arrogância, mas seria uma boa ideia se ele se permitisse ficar surpreso com aquilo que os gadgets baratinhos podem fazer.
sexta-feira, 19 de julho de 2013
Um gosto de sol
Enfim, o fato é que um dia eu acordei, olhei a vida e me espantei. Me olhei no espelho e senti falta da energia que tinha se perdido, das cores que sempre me acompanharam. A sensação de impotência e a falta de perspectivas me roubaram todas as nuances, me deixando em tons de cinza levemente tingidos de sol. Do sol que eu pegava todos os dias na ida e na volta, no caminho que eu seguia para cumprir uma das minhas obrigações não muito interessantes.
Olhei meu reflexo no espelho e deu-se uma espécie de revolução silenciosa. Vontade de estar em contato com tudo que eu deixei pra trás na rotina chata. De rever e re-ter tudo aquilo que tem significado pra mim: o riso, a música que me toca, o ídolo que me inspira, a loucura. A decisão de brilhar, brilhar, acontecer, brilhar, onde quer que eu esteja, ainda que a tarefa a ser cumprida seja uma das piores. Dar o melhor de mim. Criar, dizer tudo que eu tenho a dizer, ser eu mesma. Pôr em prática as coisas que todo mundo julga como "perda de tempo", mas que parecem importantes pra mim.
Mas a parte mais louca dessa revolução se deu no dia que eu vi a minha imagem refletida e pensei "sua linda". Passei a me amar. Sentada no ônibus, vendo a mim mesma no espelhinho côncavo, com o cabelo preso para trás - penteado que eu nunca gostei de usar -, me achei bonita. Agora me sinto poderosa, pronta para encarar o mundo inteiro e sem me preocupar tanto com pequenas questões de auto-estima. Também parei de me preocupar com minha eventual solidão. Há tanta vida lá fora, há tantas mil possibilidades, por que eu vou pensar numa parte tão pequena do jogo da vida que é essa de estar acompanhada por alguém?
Se isso é só uma fase, eu não sei. Tenho só uma certeza: não se trata de um sorriso amarelo, e sim de uma grande gargalhada. Daquelas de deixar a barriga doendo e os olhos lacrimejando de felicidade.
terça-feira, 16 de julho de 2013
Satirizando a fofura (e a submissão)
Meu coração dispara, há um nó na minha garganta, você me enfeitiçou por inteiro e sinto que devo me entregar a você. E só a você. Não saberei lidar com a hipótese de te perder. Acho que eu morro, ou mato quem estiver no meu lugar. Ou te mato. Parece doentio, mas é só amor, não leve a mal! Pode fazer o mesmo comigo, até porque eu sei que a probabilidade disso acontecer é bem pequenininha. Você morreria por mim, eu por você. Romeu e Julieta. Somos um casal perfeito.
Dizem que você não me deixa viver. Dizem que você me pressiona. Dizem que você segue todos os meus passos, que você não tem noção, que você é perigoso. Do nosso amor a gente sabe, o nome disso é carinho e atenção! Dizem que você é muito ciumento, eu chamo isso de cuidado. O que importa é que quando eu estou com você me sinto feliz. Me sinto melhor que todas as minhas amigas solteiras. Acho tudo lindo e fofo.
Pode deixar, querido, eu vou pra sua casa hoje. Eu tenho medo de tentar isso, mas o amor é mais forte que tudo, maior até do que a dor que eu posso sentir. E essa dor não pode ser mais forte do que a dor de te perder porque eu não quis te satisfazer. Afinal, meu corpo te pertence. E voaremos juntos pelo infinito...
segunda-feira, 15 de julho de 2013
Alfinetada de observação #1
Elis Regina, tida por grande parte do público e da crítica como a maior cantora do Brasil de todos os tempos, falecida há trinta e um anos, deixou três herdeiros. Entre eles, Maria Rita, única mulher, filha caçula. Eis que Maria Rita cresce, torna-se cantora e as comparações com a mãe são inevitáveis. Surge, naturalmente, um exército de fãs: tanto os órfãos da Elis quanto a juventude que quer ouvir algo além de pop enlatado.
Também naturalmente surge uma corrente contrária. Uma corrente que considera que Maria Rita não merece muita atenção, que não é nem a metade do que a mãe foi, que é medíocre e plástica. Essa corrente, formada em sua maioria por fãs da Elis, possui certo conhecimento de causa para afirmar isso. Questão de gosto, normal. Alguns que apenas implicam com a herdeira se juntam a essa corrente para engrossar o coro.
O grande problema está na reação dos fãs da Maria. Às vezes eles enxergam as críticas ao seu ídolo de forma esdrúxula e limitada. Chegam ao cúmulo de afirmar que isso é por medo que a mãe perca seu lugar na música para filha: argumento furado em tantos níveis que eu nem sei por onde começar. Por não conseguirem lidar bem com críticas, por acharem que tudo é implicância de meros saudosistas, partem para esse tipo de argumento. Pois eu digo: não é bem assim.
Digo com propriedade, estando do lado dos que não acham a Maria Rita grande coisa e sendo fã da Elis: não se trata de medo, nem de mera implicância. Eu e muitos outros fãs da Elis consideramos a Maria uma cantora fraca em vários aspectos. Por isso a criticamos como criticamos qualquer outra. Os fãs da Maria que insistem na ideia de que é "mero recalque", pelo contrário, parecem bastante inseguros do talento da sua diva. Seria imaturidade ou um medo lá no fundo das críticas serem verdadeiras?
Aos fãs da Maria Rita, só digo uma coisa: tenham perspectivas mais realistas. Para mais ou para menos. E se forem se exaltar e entrar no debate, procurem argumentos coerentes.
domingo, 14 de julho de 2013
Oito, oitenta, oitenta e oito
A única coisa que muda é a forma que cada um é julgado por tentar acalmar a própria dor. Suicidas são fracos, viciados em comida não são saudáveis, ricos que morrem de overdose são "pressionados pela fama", pobres que morrem de overdose "sustentam o tráfico", viciados em televisão são desocupados... Tenhamos um pouco mais de empatia e lembremos dos nossos momentos de sombra antes de aplicar essa moral torta.
sábado, 13 de julho de 2013
Lira do abandono
à calmaria satisfatória
de um amor maduro
preferiu a agitação sombria
ao refúgio mais seguro
preferiu a vida vazia
preferiu ficar sobre o muro
andando pelas noites frias
e pelos becos mais escuros
preferiu se achar livre
mal sabe, porém
que o caminho é duro.
18/3/13
sexta-feira, 12 de julho de 2013
Química das preferências artísticas
Nada disso me atrai. Na verdade, certas coisas citadas acima chegam a me enojar.
A intensidade, a verdade, as coisas densas, o grito de "não", o canto para fora, a diferença, a loucura individual, o "não se dobrar", a originalidade, a música pra sentar e parar pra ouvir... Isso sim me atrai, e muito. E é por isso que eu vivo. E é isso que eu quero fazer.
E não é porque todas aquelas coisas não me atraem que eu quero que elas deixem de existir. Ou que quem as faz deixe de existir. Elas simplesmente não me atraem.
quarta-feira, 3 de julho de 2013
Máscaras e bicicletas
I
- Desculpa, menina. Eu sei que você queria que eu consertasse a bicicleta. Eu juro que tentei. Levei-a num mecânico e tudo. Mas não deu, ele disse que não tinha jeito... Agora, mais desculpas, por favor, eu te suplico. Achei que seria melhor ficar com a bicicleta pra mim. Eu me encaixo muito melhor com ela.
- Mas... Mas...
- Promete que não vai ficar chateada?
- ...
II
A bicicleta me leva aonde eu quero ir. Mas só me leva quando quer. Me machuca a maior parte do tempo, a corrente prende no meu pé e o selim me incomoda quando eu sento. Eu sofro. Por que eu fui me apegar a ela?