sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

E não estavas tu (conto)

Ela saiu do prédio da faculdade, depois de uma tarde de aulas cansativas e entediantes. Notou que o céu estava nublado. Até aí, normal: era outono, algumas nuvens teimosas formavam-se de vez em quando. Às vezes chovia, mas era quase nada. A vida continuava seguindo para a maioria das pessoas, afinal, eram só alguns pingos caindo do céu. Mas, naquela tarde, havia algo de diferente no céu. Nuvens carregadas, pesadas, cinzas, que faziam com que a noite surgisse antes do tempo e traziam consigo um clima desolador. Um clima que combinava com a melancolia enraizada no peito dela.
Ela caminhava pelo campus, cabisbaixa, procurando não olhar para as pessoas ao redor. Pessoas sentadas na grama, sozinhas ou acompanhadas, com amigos ou com namorados. Nada importava mais. Tinha apenas o peso da mochila nas costas e um peso ainda maior dentro de si, o peso que ele deixou ao ir embora. Ele foi embora. E ela já não sabia dizer há quanto tempo, não sabia dizer pra onde ele tinha ido, sabia apenas que ele não estava mais ao seu lado. Não havia explicação, não havia um bilhete sequer, havia apenas o vazio. E ela não entendia. Tantas noites de amor e cumplicidade, tantos momentos de ternura, tantas promessas de não-abandono, e ele sumiu sem explicação. Há uma semana ela já não o via, e no lugar da sua presença brotou essa dor. Será que ele tinha problemas? Será que ele já não a queria mais? E todas as estrelas que eles viram juntos? E as estrelas que ele oferecia a ela como prova de amor?
"Aquela estrela é sua."
"E como você vai pegá-la pra mim?"
"Enquanto ela brilhar para nós dois, ela será sua."
"Então é melhor que seja nossa.
E na noite anterior, a estrela brilhou. No mesmo lugar. Talvez não fosse a mesma estrela, mas isso não importava.
Ela estava sozinha dessa vez.
Escorreram as primeiras lágrimas, as primeiras depois de um bom tempo ocupado com outros afazeres. E, junto com as lágrimas, a chuva que prometia cair há horas. Uma chuva torrencial, que não parecia passível de cessar em pouco tempo. Ela não se importou em se molhar, aquilo era o de menos. Parou, olhou ao redor. Aquelas pessoas, tão ocupadas com seus afazeres e com seus companheiros, se desesperaram com a chuva e começaram a correr para se abrigar. A harmonia, ainda que debaixo do céu nublado, tornou-se caos quando tudo desabou.
Ele não estava lá. Em nenhum lugar que ela pudesse encontrar. Em nenhum lugar onde costumava estar. E ela desejou, como nunca antes, que ele estivesse no meio daquelas pessoas correndo. Queria abraçá-lo em meio à chuva, ouvi-lo dizer que estava tudo bem. Mas isso não aconteceria.
Assim, ela continuou caminhando na chuva. De que adiantava correr? O temporal iria parar em algum momento, mas a sua dor não cessaria enquanto ele não aparecesse.
"Não sei se você me ama ou me engana. Só sei que sinto sua falta, e isso está me matando".

Conto inspirado em "Esta tarde vi llover" (Armando Manzanero)

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