segunda-feira, 16 de setembro de 2013

Equívocos

Acho graça de dois tipos de pessoa que se acham a nata da inteligência cultural. São os elitistas e os saudosistas.
Os primeiros insistem que cultura é somente aquilo que a elite ouve, lê e consome, que ritmos musicais e outras manifestações populares não fazem parte da cultura. Que pagode, arrocha e funk são coisas inferiores. Usam diversas justificativas furadas para isso, até mesmo a da "falta de qualidade" das manifestações analisadas, tentando esconder algo que é mera arrogância. Em resumo, eles não gostam porque é coisa de pobre, negro e/ou da favela. São esses mesmos que acham lindo quando uma manifestação cultural da periferia é "embranquecida" e "higienizada" pra agradar a eles. Ou a arrogância é tão grande que nem os permite gostar do que já foi descaracterizado em favor deles.
Já os saudosistas insistem que "música boa é a de antigamente". Sem critério algum. Tendem a romancear toda a música de outrora, inclusive aquilo que em sua época era considerado como lixo musical. Para eles, o pop de antigamente, não importa o quão vazio fosse, é melhor do que o de hoje. Para eles, nada da música de hoje presta. Uma generalização idiota, pois música comercial e música "trabalhada" sempre existiram, e isso pode ser notado numa análise mais criteriosa. A produção fonográfica, aliás, é um grande ciclo. As coisas são as mesmas há um bom tempo, mas ninguém para pra observar isso.
Eu até entraria na discussão sobre como esses dois grupos têm atitudes misóginas (de ódio à mulher) para legitimar seus pontos de vista sobre "música de pobre" e "música ruim de hoje", mas não estou a fim de construir uma argumentação profunda sobre isso. É só uma pequena observação sobre como eu não gosto dessas atitudes. Creio que a verdadeira inteligência esteja em admitir que tudo é cultura. O pagodão é cultura, o funk é cultura, a literatura de cordel é cultura. Você pode desgostar à vontade, mas não desqualifique enquanto cultura. E é sempre bom mergulhar sem medo em tudo o que foi produzido antigamente e notar que ABBA é tão pop comercial quanto Britney Spears.

Um comentário:

  1. Não suporto mais ver pessoas inferiorizando gostos musicais. Maldito etnocentrismo.

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