segunda-feira, 30 de setembro de 2013

Observações tortas

Sou feminista.
Meu feminismo é aquele dos pilares mais básicos: igualdade de direitos para homens e mulheres, fim da cultura do estupro, fim da educação machista que recebemos e que perpetua milhões de estereótipos aprisionadores. Há espaço também para certa interseccionalidade, dentro dos meus limites. Apoio a luta transfeminista, o feminismo negro, a luta LGBT, e sei que há necessidade da existência desses feminismos porque essas pessoas sofrem mais que eu. E sei que não posso falar por essas pessoas, porque de certa forma ainda sou privilegiada em relação a elas, como mulher cissexual, branca - na verdade parda, mas reconhecida pela sociedade como branca -, heterossexual e de classe média. Então vou sendo feminista do meu jeito, tentando aplicar os diversos conceitos na minha vida, pedindo que as pessoas respeitem aquelxs pelxs quais não posso falar.
A ideia é destruir o patriarcado, essa superestrutura opressora. Que prega que a mulher não pode ser livre, nem dona de seu corpo. Que inventa regras mil para a vida das mulheres. Que marginaliza quem não cabe nas caixas de gênero e sexualidade. Que hipersexualiza e discrimina a mulher negra. As diferentes vertentes do feminismo dedicam-se a esse combate de diversas formas. Uma delas é a tão incompreendida misandria: ódio à ideia de homem, à ideia de "macho" que legitima as opressões. Os menos entendidos a tacham de "femismo", o contrário de machismo; e consideram isso tão perigoso quanto o machismo. Ledo engano: o machismo é algo estrutural, a misandria é a reação do oprimido. Outra prática comum é a lesbiandade como posição política anti-patriarcado, bem como as relações livres em detrimento da monogamia.
Acho tudo isso válido, entendo as razões. Só me incomodo um pouco com a postura de algumas feministas em relação às práticas que citei no parágrafo anterior. Algumas pessoas agem como se você não pudesse ser feminista e monogâmica, ou feminista e hétero. Falam como se toda monogamia fosse opressora. Eu acredito numa ressignificação da monogamia, sem dominação e sem ciúme, sem ideia de "propriedade". Acredito que dizer que quem está num relacionamento monogâmico é necessariamente oprimido seja o mesmo erro de dizer que as mulheres islâmicas são oprimidas por cobrir o corpo. É uma limitação.
Mas sim, sou feminista. Com orgulho. E procuro aprender mais sobre, questionar meus privilégios e combater todos esses monstros que nos prendem, limitam e agridem. Não sei se consegui dizer claramente o que penso, mas acho que estou sendo coerente.