terça-feira, 4 de outubro de 2016

História sem graça

Nos últimos anos, me inspirei na dor e na alegria - mais na primeira do que na segunda - para escrever textos das mais diversas naturezas. Contos fictícios, textos confessionais recheados de metáforas, pretensas ficções que deixavam à mostra o meu coração sangrando por baixo das linhas mal traçadas. Não houve momento no qual eu não escrevesse. As decepções amorosas que vivi me serviram de combustível para escrever algumas das mais belas coisas que já fiz. 
Mas o mais estranho de tudo é que não consigo escrever sobre você.
Qualquer coisa alegre, qualquer carta que comunique o quão feliz me sinto naquele momento por te ter ao meu lado, qualquer tentativa de demonstrar um sentimento que começa a se delinear, tudo isso me soa falso e precipitado. Mesmo que anteriormente eu tenha escrito tanta coisa sem me preocupar com o que as pessoas que me inspiraram iriam dizer. 
Da mesma forma, nem as palavras de tristeza, de dor, de ódio, saem. Porque não há tristeza, dor, nem ódio. Nenhum tipo de mágoa.
O que há é uma apatia entediante e forçosa. Um "não poder sentir". Um "não poder gostar". Um "nunca saber o que está se passando". E um horizonte nublado que me sugere a permanência nessa situação morna e morosa por um bom tempo. 
Talvez você já tenha lugar marcado na parede da minha memória como "a história mais sem graça que já vivi". Não por falta de vontade, mas por motivos escusos que eu até arrisco dizer quais são. Medo, intransigência, egocentrismo, há muitas possibilidades. Ou "não querer". É uma possibilidade. O problema é não querer e agir como se quisesse.

O retorno

Estou de volta a esse pequeno espaço tão pessoal. O Medium prendeu minha atenção por um bom tempo, mas tem horas que se torna bem cansativo estar à deriva em meio a tantos textões cheios de certezas, tantas tentativas de teorizar sobre coisas pessoais, de transformar a dor individual em coletiva e impessoal. No fundo, cada qual só sabe de si. Não é?
Acho que vou fazer disso aqui um diário. Derramar aqui toda a pieguice, as metáforas e a subjetividade que o Medium não me permite. Quer dizer, não me proíbe explicitamente, claro. Mas a natureza da plataforma é outra, né. Não vou me alongar. Enfim, outra coisa que me estimula a voltar pra cá: quem ainda lê blogs hospedados no Blogger hoje em dia? Essa plataforma tão obsoleta e desconectada da realidade web multimídia hiper social... O que me conforta é saber que me achar aqui requer uma certa dose de stalking.

quinta-feira, 30 de abril de 2015

Encruzilhada

Se fez a encruzilhada. E no meio dela estou eu. Não sei pra onde virar, e a ansiedade me consome por dentro. Não consigo simplesmente caminhar. Como vou caminhar tranquila se o caminho parece tão ameaçador, tão sombrio e pouco receptivo? Há algum tempo eu tinha a certeza de que o sol iria brilhar. E mesmo que não brilhasse eternamente, pelo menos eu o teria por algumas horas, aquecendo minha pele, me fazendo sentir viva. Agora, tudo é mistério, tudo é nuvem, tudo é treva.
Tantas pessoas me dizem que eu já deveria ter me acostumado. Que é errado especular sobre os rumos vindouros. "Let it go", dizem. Siga em frente sem olhar pra trás e para o lado. Desapegue. Mas eu não sei desapegar. Vivo minha síndrome de bola de meia, bola de gude. E enquanto decido qual rumo seguir nessa encruzilhada, sento à beira do caminho e rascunho prosas mal-cifradas. Prosas que têm uma pretensão de mistério, mas que no fundo são tão transparentes quanto eu. Eu sou pessoa. Sou transparente. E não estou aqui pra jogar.

quarta-feira, 22 de abril de 2015

Agora

Cada vez que eu inspirava profundamente era um mergulho dentro de mim mesma em busca de coragem, uma forma de desfrutar daquela paz. Depois de repetir algumas vezes esse movimento de inspirar e expirar, às vezes de maneira ruidosa, tamanha a força contida naquela ação, encontrei a coragem e dei início a tudo. Disse sim. Me fiz visível, me fiz entender. E a mensagem foi captada. Dali em diante nada mais importou, tudo o que eu queria era ficar ali onde estava, flutuando no mar da doçura e da beleza. "Viver a divina comédia humana onde nada é eterno". Nada. De nada estamos certos. De tudo só se quer o agora. Aquele "agora" era o que eu tinha, e poderia até ser eterno. Naquele "agora" eu era infinita.

quinta-feira, 26 de março de 2015

Parágrafo musical e amoroso

O amor é uma coisa mais profunda que um encontro casual. É a ausência de engarrafamento. Só dura em liberdade. É meio ermo. É como uma rosa num jardim. Tantas músicas o definem com maestria, e eu só discordo de uma, aquela que diz que o amor só é bom se doer. Não. Amor que dói é abusivo, é fatal, na pior das hipóteses. Na melhor, é desilusão. É masoquista e prejudicial pensar que amor bom é aquele que dói. É um tipo de pensamento que nos faz suportar situações terríveis, sofrer todos os tipos de abuso, tudo "em nome do amor". Não. É necessário ter amor-próprio. Que o amor seja, como diz outra canção, "essas coisas muito fora de juízo", mas que o delírio e a loucura mantenham-se no âmbito do êxtase.