O amor é uma coisa mais profunda que um encontro casual. É a ausência de engarrafamento. Só dura em liberdade. É meio ermo. É como uma rosa num jardim. Tantas músicas o definem com maestria, e eu só discordo de uma, aquela que diz que o amor só é bom se doer. Não. Amor que dói é abusivo, é fatal, na pior das hipóteses. Na melhor, é desilusão. É masoquista e prejudicial pensar que amor bom é aquele que dói. É um tipo de pensamento que nos faz suportar situações terríveis, sofrer todos os tipos de abuso, tudo "em nome do amor". Não. É necessário ter amor-próprio. Que o amor seja, como diz outra canção, "essas coisas muito fora de juízo", mas que o delírio e a loucura mantenham-se no âmbito do êxtase.
quinta-feira, 26 de março de 2015
segunda-feira, 9 de março de 2015
Transparência
Mas eu espero que você tenha percebido, na fração de segundo em que nossos olhos se encontraram, o meu olhar de mágoa e decepção. Um olhar duro e firme, de raiva. Talvez você saiba que é apenas fachada a rudeza dos meus olhos, fachada para um oceano de lágrimas que ameaça transbordar, mas fica represado entre as paredes do cotidiano e da razão. Ah, a razão. A razão que eu desenvolvi com o passar dos anos, aquela que me impede de fazer loucuras. Quisera eu ser, ainda, a menina que mandava bilhetes, que perseguia os garotos amados, que dava asas à insanidade de amar sem medo de ser julgada. É, as coisas mudam e se tornam mais complicadas.
Enquanto isso, sigo fazendo dessa dor insistente um combustível para a minha inspiração, para a minha escrita. Transformar a mágoa em arte. Ser transparente e transbordante, ainda que isso signifique ser fraca. Se um dia você ler isso, saberá como eu me sinto, sentinela de si mesmo. Mas é quase certo que você não lerá...
sexta-feira, 6 de março de 2015
A barra do amor
Aqui me desnudo completamente. Nas palavras que você não vai ler. Se acabar lendo-as, não importa muito, pois no fim das contas elas mal lhe dirão alguma coisa. É um mundo muito distante esse que você abandonou, esse no qual você pôs o pé esquerdo, ameaçou entrar e se afastou de súbito como quem toca numa chaleira prestes a apitar. Do alto de sua muralha, você, sentinela e senhor de si mesmo, não deve se importar com o que acontece aqui embaixo.
Mas venho lhe dizer que o sentimento mais breve descreveu a eterna cicatriz. Quase que fui feliz, como diz o poeta. Quase. Quando o fogo começou a queimar no meu peito, me aquecendo e acalmando, fez-se o incêndio, a queimada, e saí devastada. Brinquei com fogo. Quem sou eu pra tentar tirar sua liberdade?
Por outro lado, porém, se você sabia ou desconfiava que eu queria ir além da superfície, por que continuou pondo lenha nessa fogueira? Por que me envolveu na trama da sua vida, dividiu comigo os pequenos detalhes e arremates, se depois me deixaria para trás?
Juro, até hoje não entendo. Queria que as coisas fossem mais claras. A realidade é clara como água, mas as minúcias são obscuras, cor de carvão e cinzas, cor do meu coração carbonizado. Está uma bagunça aqui dentro. Mas vou seguindo pela vida. Tentando não levar flechadas do teu olhar. Tentando não deixar que minha visão periférica me traia. Tentando ser forte.