segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

Eu só queria enxergar. (conto)


Sentei na mureta que separava a pista da praia. As ondas quebravam nas pedras e eu precisava de um alívio, uma distração, um passatempo. Então, pus-me a observar aquele mar azul, espelho do céu, que tanta gente adorava, que era vendido como a coisa mais bela desse mundo. Olhei. Olhei. Não vi. Não enxerguei essa beleza toda. Que sentido havia, afinal, em um monte de água que vai e volta?
Lembrei que, quando criança, adorava o mar. Aos domingos, ia para a praia com meu pai e minhas irmãs e me divertia com castelinhos de areia e mergulhos frustrados. Meus castelos sempre caíam uma hora ou outra; e meu pai dizia que eu não sabia encontrar o ponto exato na mistura de água e areia para manter a firmeza. "Quando você descobrir, encontrará o sentido da vida: o ponto certo, o equilíbrio". Aquilo não fazia muito sentido para mim.
Mas agora entendo bem o que meu pai queria dizer. Numa tarde de domingo, igual a tantas outras que vivi ao lado dele, quinze anos depois, eu chego à conclusão de que ainda não encontrei o tal equilíbrio. E talvez não encontre. Ando bastante triste e apática. Tento me esconder usando máscaras, saindo para beber com os amigos, querendo tudo para agora. Beijos instantâneos, amizades passageiras, noites fugazes. Vida morna. Pra mim não faz sentido algum buscar uma felicidade que eu não sei se existe. O mundo até poderia acabar e eu permaneceria inerte. Sou uma mulher derrotada.
Aí eu me lembro dele. Aquele rapaz. Tão lindo, tão gentil, tão necessário. Aquele com o qual eu tenho milhões de discussões filosóficas, aquele que pensa no futuro em contraponto à minha visão imediatista da vida. Tão sutil quanto uma melodia trabalhada em dois acordes. Eu não sei se o amo, não sei se seria capaz de largar minha forma de vida para ficar com ele. Mas ele às vezes me faz pensar que eu descobri o equilíbrio. Então reformulo o meu pensamento: o mundo poderia acabar hoje, mas eu adoraria estar com ele. Dançando.

Conto bobinho escrito em julho de 2011, inspirado (obviamente) na música Dançando, do Agridoce.

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