terça-feira, 29 de janeiro de 2013

A rosa

Você se destruiu nessa vida incerta.
Você destruiu a rosa que estava certa de não despetalar.
Você se destruiu mais ainda ao tocar nos espinhos dela.

sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

Entreouvido

Eu aprendi a lidar com a muralha que ela traz ao redor de si. Uma muralha de razão. Mas ainda não sei lidar com as suas reações confusas, com o seu aparente desinteresse. Seria tão legal se ela me ouvisse, entendesse minha carência, me fizesse sentir capaz, se dedicasse do mesmo jeito que eu me dedico a ela... "Pessoas são diferentes". Eu sei. Mas um pouco de ajuste não é nada mau.

terça-feira, 15 de janeiro de 2013

Meninas de 12 anos descobrindo o mundo...

...e você sendo babaca :)


Um dos "memes" modernos que pipocam por aqui e por ali no facebook é aquele que diz "meninas de 12 anos chorando por amor e eu ainda nem sei fazer tal coisa". Mudam algumas palavras, mas a estrutura é a mesma. O subtexto é "oh, essas meninas são umas vadias, o mundo está perdido, eu sou tão ingênuo e elas sabem mais que eu". Esse negócio me incomoda profundamente. Pra começar, só se fala das meninas. Raramente são postadas imagens que citem meninos, ou crianças no geral. Segundo, há uma ideia - errônea - de que meninas de 12 anos não deveriam se apaixonar, descobrir a vida, sofrer por amor, porque são apenas crianças. E que aqueles que compartilham essas postagens são "melhores" por serem mais ingênuos que elas, ou porque aos 12 anos não faziam tais coisas citadas.
O meu recado é: deixemos de hipocrisia. 12 anos é a idade-limiar entre a infância e a adolescência, época na qual se experimenta muita coisa. Meninas e meninos sentem atração física, se apaixonam, fazem descobertas, quebram a cara... Não se deve considerar isso como uma coisa errada, na minha opinião. Aos doze anos de idade eu me apaixonei e sofri por amor. Normalíssimo. O problema não está nas crianças de 12 anos que se apaixonam, está na hipocrisia e no falso moralismo de pessoas que compartilham essas coisas. E se você acha legal exaltar essa sua pseudo-ingenuidade, só lamento por você.

P.S.: Outro dia li um tweet "meninas de 17 anos chorando por amor" e blablablá. Me senti ofendida, sinceramente. Esse povo esqueceu que teve 17 anos. É muita babaquice na internet. 
P.S. 2: Sim, eu tenho 17.

quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

Crianças coloridas

Se eu tiver filhos, eles com certeza serão educados de maneira bem diferente. Pra começar, comprarei roupas multicoloridas pra eles, já fugindo do "azul para meninos e rosa para meninas". Eles não terão quartos estereotipados segundo essas regras de cor também. Seus brinquedos não seguirão as convenções de gênero. Aliás, planejo um quarto de brinquedos pra eles, um quarto cheio de possibilidades. Bonecas, carrinhos, bolas, quebra-cabeças, lego, forninhos, brinquedos educativos, panelinhas de cozinha, bonecos, todos os brinquedos possíveis. Uso livre. Sem essa de "brinquedo de menino e de menina": poderão brincar do que quiserem, sem qualquer discriminação. Tentarei ensiná-los desde cedo que eles podem ser mais do que o que a sociedade espera deles, que eles não precisam reproduzir modelos errôneos de comportamento para viver. Que a menina não precisa ser dócil e meiga. Que o menino não precisa ser agressivo e "elétrico". Que os dois poderão brincar na rua ou em casa, se quiserem. E que eles podem abraçar o mundo, se quiserem.

quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

Verborragia do cansaço

Passei uns oito meses cumprindo a estressante rotina de curso técnico e faculdade ao mesmo tempo. Praticamente criei raízes dentro do ônibus que eu pegava pra ir de um pra outro (e pra voltar pra casa), o único ônibus que me servia. Ainda bem que as viagens eram tranquilas, apesar de cansativas. Enfim, chegou o recesso de final de ano e eu tive um descanso. Ah, que bom ficar sem fazer nada, agora criando raízes na cama, no sofá, na cadeira do computador... Que bom sair de casa, relaxar, rir com os parentes e lembrar que a vida, apesar de não ser paetê e lantejoula, tem todo um brilho ofuscado pelo cotidiano. Porém me vi obrigada a voltar a metade dessa rotina: aulas da faculdade em janeiro. E meu corpo sofreu. Ah, como sofreu. Me vi muito cansada, tendo mil sintomas físicos, dores, enjoos, fraqueza, sono. Nunca me senti tão estranha como nos últimos dias. O lado bom é que um pouco de repouso - de novo - ajudou. É importante desacelerar... Mas também é importante não voltar à ativa muito cedo.
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E já que é pra falar de cansaço, será que é tão difícil perceber que eu cansei, moço? Cansei desde aquela despedida. Ou desde o momento no qual percebi que era necessário me despedir para não sofrer mais. Aquilo que eu sempre disse é pura verdade: uma vez desfeitos os laços, nenhuma tentativa de refazê-los seria aceita, caso o processo fosse doloroso. Nosso jogo terminou, infelizmente ou felizmente. Espero que você canse de insistir também.

segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

Eu só queria enxergar. (conto)


Sentei na mureta que separava a pista da praia. As ondas quebravam nas pedras e eu precisava de um alívio, uma distração, um passatempo. Então, pus-me a observar aquele mar azul, espelho do céu, que tanta gente adorava, que era vendido como a coisa mais bela desse mundo. Olhei. Olhei. Não vi. Não enxerguei essa beleza toda. Que sentido havia, afinal, em um monte de água que vai e volta?
Lembrei que, quando criança, adorava o mar. Aos domingos, ia para a praia com meu pai e minhas irmãs e me divertia com castelinhos de areia e mergulhos frustrados. Meus castelos sempre caíam uma hora ou outra; e meu pai dizia que eu não sabia encontrar o ponto exato na mistura de água e areia para manter a firmeza. "Quando você descobrir, encontrará o sentido da vida: o ponto certo, o equilíbrio". Aquilo não fazia muito sentido para mim.
Mas agora entendo bem o que meu pai queria dizer. Numa tarde de domingo, igual a tantas outras que vivi ao lado dele, quinze anos depois, eu chego à conclusão de que ainda não encontrei o tal equilíbrio. E talvez não encontre. Ando bastante triste e apática. Tento me esconder usando máscaras, saindo para beber com os amigos, querendo tudo para agora. Beijos instantâneos, amizades passageiras, noites fugazes. Vida morna. Pra mim não faz sentido algum buscar uma felicidade que eu não sei se existe. O mundo até poderia acabar e eu permaneceria inerte. Sou uma mulher derrotada.
Aí eu me lembro dele. Aquele rapaz. Tão lindo, tão gentil, tão necessário. Aquele com o qual eu tenho milhões de discussões filosóficas, aquele que pensa no futuro em contraponto à minha visão imediatista da vida. Tão sutil quanto uma melodia trabalhada em dois acordes. Eu não sei se o amo, não sei se seria capaz de largar minha forma de vida para ficar com ele. Mas ele às vezes me faz pensar que eu descobri o equilíbrio. Então reformulo o meu pensamento: o mundo poderia acabar hoje, mas eu adoraria estar com ele. Dançando.

Conto bobinho escrito em julho de 2011, inspirado (obviamente) na música Dançando, do Agridoce.

Esqueci as regras do jogo.

Sei lá. Hoje me dei conta de que esqueci. Ainda que esquecer as regras do jogo seja uma coisa boa em alguns casos. Na maioria deles, aliás. Esquecer as regras de como se comportar, de como se vestir, de como agir, de como ter que ser... É muito bom que tudo seja orgânico e nada programado. Mas hoje vim falar de outras regras. As regras do jogo de cantar. Aliás, que regras são essas? Está escrito em algum lugar que há regras? Faça vibrato desse jeito, subverta a melodia para acharem que você dá personalidade à interpretação, imite tal cantor e diga que se inspira nele... É. Todo um estilo pré-formatado, sei lá. Mas ainda não são essas regras que falo. Falo do básico. Alguns meses sem praticar o pouco que sei de canto popular, o pouco que aprendi sozinha... e esqueci tudo. Não consigo mais cantar. Esqueci a respiração, esqueci como fazer a voz sair corretamente, esqueci uma porção de coisas. E isso sem contar as outras milhões de coisas técnicas que eu nunca soube. De forma que hoje eu tento gravar algo e sai uma grande porcaria. De forma que eu canso facilmente tentando cantar. De forma que eu escorrego na afinação.
Não sei se um dia eu realmente soube essas regras. Não sei se eu as punha em prática corretamente, apesar do pessoal não ter se queixado. O que sei é que eu as esqueci, e como isso dói...